sexta-feira, 11 de junho de 2010

Ainda a propósito do dia de Camões e de Portugal

Última bandeira monárquica, guardada no Arquivo Histórico de Torre de Moncorvo (a cor azul, do lado esquerdo, encontra-se muito desbotada)

A utilização política da figura de Luís de Camões dera-se nos tempos finais da Monarquia portuguesa, aquando do Ultimato inglês (1890) que rasgou o chamado "Mapa cor-de-rosa" (projecto de união dos territórios ultramarinos de Angola e Moçambique). Após a cedência do governo português de então à intimação britânica, os republicanos cobriram então a estátua de Camões de panos pretos.

Mais tarde, após implantação da República, o decreto de 12 de Outubro de 1910 viria a definir os novos feriados nacionais, em que se atribuem significados novos a alguns feriados anteriores ou a outros de cariz religioso (p. ex.: o Natal passou a celebrar-se como dia da Família). No entanto, neste rol, o dia 10 de Junho não estava ainda consagrado, preferindo o novo regime "recauchutar" em Dia da Autonomia e da Bandeira, o velho feriado de 1 de Dezembro (dia da Restauração da independência, em 1640). Todavia, no mesmo decreto, dava-se a possibilidade de os concelhos (através das respectivas câmaras) escolherem um dia de feriado municipal. A Câmara de Lisboa escolheu então para seu feriado municipal o dia 10 de Junho, em honra de Camões (por ter sido nesta data que morreu o autor de Os Lusíadas, na cidade de Lisboa, visto que a data de nascimento não é conhecida).

Com o chamado "Estado Novo" (1933-1974) o feriado de Lisboa (10 de Junho) acabaria por ser alargado a todo o império, como o Dia de Portugal e da Raça (lusíada, entenda-se). Nesta ocasião faziam-se grandes paradas militares e, na fase da guerra do ultramar, era neste dia que se condecoravam os soldados que se tivessem distinguido por feitos valorosos.

Após o 25 de Abril de 1974, manteve-se o feriado, agora com a designação de Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas (adoptada em 1978), de forma a homenagear também os emigrantes portugueses espalhados pelo mundo. A data continuou a ser assinalada com marchas militares, com atribuição de condecorações e comendas honoríficas a certas personalidades, insígnias que são distribuídas pelo Presidente da República.

Apesar das críticas jocosas ao ritual do 10 de Junho, satirizadas, por exemplo, na "Valsinha das Medalhas" do cantor Rui Veloso, nem mesmo este resistiu à tentação de aceitar receber uma Grã Cruz da Ordem do Infante, que lhe foi atribuída pelo então Presidente da República, Dr. Mário Soares.

Para saber mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_de_Portugal

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